Já vimos o funcionamento de objetos e de estruturas de controle em JavaScript, ambos conceitos essenciais para a aprendizagem da linguagem e para a escrita de algoritmos. Agora, vamos aprofundar nosso entendimento sobre a unidade de computação da linguagem JavaScript: as funções.
Uma função é um trecho de código que pode ser chamado por um fluxo de execução — incluindo por si mesma — ou por uma variável que a referencia. Quando uma função é chamada, argumentos são passados para a função como entrada, e a função pode retornar opcionalmente um valor qualquer.
Funções são extremamente úteis e podem ser utilizadas para reutilização de código, encapsulamento e composição de dados em diversas linguagens de programação. No entanto, o modo como funções são tratadas em JavaScript pode ser estranha para a maioria dos desenvolvedores. Por isso, é importante ter um bom entendimento de como funções trabalham em JavaScript, para que você possa extrair o máximo da linguagem.
Declarando e executando uma função 🙝
Uma função pode ser declarada com o auxílio da palavra-chave function
seguido de:
- o nome da função;
- a lista de parâmetros da função entre parênteses e separado por vírgulas e;
- As declarações que definem essa função entre um par de chaves
{…}
.
Por exemplo, o código abaixo define uma função chamada quadrado
.
function quadrado(numero) {
return numero * numero;
}
A função quadrado
tem um único parâmetro — chamado numero
— e é definida por uma única declaração, que consiste em retornar o valor do parâmetro multiplicado por ele mesmo. Entretanto, definir uma função não significa executar o código declarado. Definir uma função significa dar um nome a um trecho de código que será chamado quando for requisitado.
Chamar uma função significa realmente executar o trecho de código. Para chamar uma função em JavaScript, você utiliza o nome da função seguido dos argumentos de entrada entre um par de parênteses. No exemplo anterior, podemos chamar a função quadrado
como segue:
quadrado(3);
Nesta chamada, o parâmetro numero
da função quadrado
assume o valor 3
. A função é executada e o resultado, 9
, é retornado da função. Para visualizar esse resultado, vamos atribuí-lo em uma variável e mostrar no console.
var resultado = quadrado(3);
console.log(resultado); // → 9
Valores primitivos, como é o caso de valores do tipo número, são passados para funções "por valor". Ou seja, uma cópia co valor é passada para a função quando ela é chamada. O valor original do argumento não é alterado. Veja o exemplo abaixo:
function somaUm(numero) {
++numero;
console.log('numero dentro da função ', numero);
}
var numero = 0;
console.log('numero antes da função ', numero);
somaUm(numero);
console.log('numero depois da função ', numero);
A saída desse código será:
numero antes da função 0 numero dentro da função 1 numero depois da função 0
No entanto, objetos são passados como "por referência". Ou seja, o mesmo objeto é passado para dentro da função e não uma cópia dele. Dessa forma, mutar o objeto dentro da função tem efeitos colaterais em valores fora da função. Veja:
function ativar(cupom) {
cupom.ativo = true;
}
var cupom = { codigo: '000X', ativo: false };
console.log('cupom %s - ativo: %s', cupom.codigo, cupom.ativo);
ativar(cupom);
console.log('cupom %s - ativo: %s', cupom.codigo, cupom.ativo);
A saída desse código será:
cupom 000X - ativo: false cupom 000X - ativo: true
Devido as características do JavaScript — mais especificamente o hoisting — uma função não pode ser declarada condicionalmente. Quando temos duas funções com o mesmo nome, há conflito de referência e isso causa um erro. Ou seja, não é possível escrever um código como o abaixo:
if (nota < 7) {
function resultado() {
return 'Reprovado';
}
} else {
function resultado() {
return 'Aprovado';
}
}
console.log('O resultado é: ' + resultado());
Aridade de funções e passagem de argumentos 🙝
Diferente de muitas linguagens, o JavaScript não restringe a quantidade de argumentos que a chamada da função pode receber dada a aridade da função. Supondo o mesmo exemplo da função quadrado
acima, as chamadas abaixo são completamente válidas em JavaScript:
function quadrado(numero) {
return numero * numero;
}
console.log(quadrado(2)); // → 4
console.log(quadrado(5, 1, 8)); // → 25
console.log(quadrado()); // → NaN
A função quadrado
oficialmente aceita um argumento. Quando executamos a função passando mais argumentos que a aridade da função, a função os ignora; Se passamos menos argumentos que aridade da função, o JavaScript atribui undefined
para os argumentos faltantes.
Funções como valores de primeira-classe 🙝
Funções, em JavaScript, são valores de primeira classe e, por isso, são tratadas como qualquer outro valor na linguagem. Assim, funções podem ser passadas como parâmetros ou retornadas como resultado de uma função. Funções podem também serem atribuídas em variáveis.
Além disso, toda função em JavaScript é também um objeto e tem propriedades e métodos associados. Apesar do typeof
de uma função ser "function"
, uma função é sempre instância de um objeto. Veja abaixo:
function quadrado(numero) {
return numero * numero;
}
function informacoes(funcao) {
console.log(typeof funcao);
console.log(funcao instanceof Object);
console.log(funcao instanceof Function);
console.log(funcao.name);
}
var funcao = quadrado;
informacoes(funcao);
O código acima terá a saída
function true true quadrado
Expressões funcionais 🙝
Em JavaScript, a declaração de uma função pode ser retornada como um valor, ou seja, como uma expressão funcional. Podemos atribuir a função quadrado
para uma variável potencia2
da seguinte forma:
var potencia2 = function quadrado(numero) {
return numero * numero;
};
console.log(quadrado(2)); // → 4
console.log(potencia2(2)); // → 4
O JavaScript também permite que expressões funcionais sejam anônimas, ou seja, não requerem um nome para serem definidas. Mais uma vez, podemos reescrever nossa função quadrado
como uma expressão funcional:
var quadrado = function (numero) {
return numero * numero;
};
console.log(quadrado(6)); // → 36
Apesar de ter um resultado muito semelhante, utilizar uma expressão funcional anônima tem um significado diferente de uma declaração de função. Um resultado interessante é que expressões funcionais podem ser "atribuídas condicionamente", diferente das funções declaradas. Ou seja, agora, o código abaixo é válido em JavaScript:
var resultado;
if (nota < 7) {
resultado = function () {
return 'Reprovado';
};
} else {
resultado = function () {
return 'Aprovado';
};
}
console.log('O resultado é: ' + resultado());
Funções anônimas são frequentemente utilizadas em JavaScript e permitem escrever um código coeso e expressivo. Em algumas referências, funções anônimas são chamadas apenas de lambdas.
Funções de alta ordem 🙝
Por serem valores de primeira classe, as funções em JavaScript são funções de alta ordem. Ou seja, podemos então passar funções como argumentos em outra função ou retornar funções como resultado de uma função. Veja o exemplo:
function multipliquePor(n) {
return function (x) {
return x * n;
};
}
var dobro = multipliquePor(2);
var triplo = multipliquePor(3);
console.log(dobro(6)); // → 12
console.log(dobro(9)); // → 18
console.log(triplo(3)); // → 9
console.log(triplo(4)); // → 12
Note que a função multipliquePor
pega um parâmetro n
e retorna uma nova função que pega um parâmetro x
e que então, quando for chamada, multiplica x
por n
. Dessa forma, podemos criar duas funções, uma que multiplica por dois, que chamamos de dobro
; e uma que multiplica por três, que chamamos de triplo
. Ao final, temos as chamadas da funções dobro
e triplo
para alguns diferentes argumentos.
Funções de alta ordem são extremamente úteis e muito utilizadas em JavaScript, principalmente quando desejamos codificar em um estilo mais próximo do paradigma funcional. Entender funções de alta ordem permite entender um dos conceitos mais fundamentais do JavaScript: closures.
Conclusão e agradecimentos 🙝
Nesse episódio aprendemos sobre funções, como declará-las e suas principais características. A palavra-chave function
pode ser utilizada tanto em uma declaração de função quanto em uma expressão funcional. É fundamental compreender que funções, em JavaScript, são valores de primeira classe.
Chegamos ao fim da série JavaScript Básico, mas não no fim do conteúdo da linguagem e de suas funcionalidades. Com o conteúdo visto até aqui, você já pode criar de programas simples e codificar algoritmos em JavaScript. Gostaria de agradecer ao meu amigo Guilherme e minha amiga Mariana pela revisão dos textos e que permitiram uma melhor leitura desse blog.
Pretendo lançar outros textos falando sobre aspectos mais profundos mas incrivelmente úteis do JavaScript, em termos mais técnicos tais como o processo de hoisting, closures, operações binárias, entre outros. Também quero escrever mais sobre a programação em paradigma orientado a objetos e funcional.